- por Marcos Gimenez
- on 18/04/2025
Suspensão de exportações de terras raras paralisa indústrias ocidentais, enquanto Washington busca minar monopólio chinês através de recursos ucranianos sob tensão militar
Falando Sério!
Em meio à escalada da guerra comercial entre China e Estados Unidos, Pequim decretou em 4 de abril de 2025 a suspensão das exportações de metais raros e ímãs, matérias-primas essenciais para tecnologias de defesa, energia limpa e eletrônicos.
A medida, disfarçada sob a exigência de licenças especiais não implementadas, paralisou portos chineses e gerou crise global em cadeias de suprimentos. Enquanto indústrias dos EUA, Japão e Alemanha enfrentam gargalos, Washington responde com um acordo controverso para explorar reservas estratégicas na Ucrânia, país em guerra, mas rico em minerais críticos como lítio e terras raras. O movimento, porém, esbarra em resistências locais e riscos geopolíticos.
A China, responsável por 90% da produção global de ímãs de terras raras e quase 100% de metais pesados como disprósio e térbio, transformou sua dominância em uma arma silenciosa. A suspensão de exportações, segundo analistas, visa pressionar os EUA a recuar em tarifas comerciais e consolidar Pequim como peça indispensável na corrida tecnológica. Empresas como a TSMC, Samsung e Qualcomm já reportam atrasos na fabricação de semicondutores e baterias para veículos elétricos. “Drones e robótica são o futuro da guerra e, agora essas cadeias estão bloqueadas”, alertou James Litinsky, CEO da MP Materials, única mineradora de terras raras em solo americano.
Do outro lado do tabuleiro geopolítico, os EUA buscam reduzir a dependência chinesa através de um acordo com a Ucrânia, país que detém 22 dos 34 minerais classificados como críticos pela União Europeia, incluindo titânio, urânio e reservas inexploradas de terras raras. O acordo, negociado pelo governo Trump, permite que Washington use receitas da exploração de petróleo, gás e minerais ucranianos como “reembolso” pela ajuda militar. A estratégia, porém, enfrenta oposição do presidente Volodymyr Zelensky, que exige garantias de segurança contra a Rússia em troca dos recursos.
Os obstáculos são múltiplos: parte das reservas está em regiões ocupadas pela Rússia, como Donbas e Crimeia; dados geológicos são tratados como segredo de Estado desde a era soviética; e projetos anteriores de empresas como Chevron e Shell fracassaram devido à guerra e à infraestrutura destruída. Enquanto isso, a China aproveita para enviar um recado: “Sem diálogo igualitário, não há solução”, declarou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, em coletiva recente.
Conclusão
O impasse revela uma disputa onde recursos minerais valem mais que ouro. A China arrisca acelerar a fuga de investimentos para o Sudeste Asiático, enquanto os EUA navegam em águas turbulentas ao tratar a Ucrânia como tabuleiro de xadrez geoeconômico. Para o resto do mundo, a lição é clara: a próxima guerra não será travada apenas com armas, mas com terras raras, contratos de mineração e licenças de exportação. Enquanto isso, a estabilidade da cadeia global de suprimentos pende sobre um fio e, o preço a pagar pode ser a soberania de nações no centro do conflito.
Imagem Destacada: Trabalhadores transportam solo contendo elementos de terras raras para exportação em um porto em Lianyungang, China, em 2019. (Foto da Reuters)
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