- por Marcos Gimenez
- on 17/04/2025
Proposta controversa, ainda não finalizada, divide aliados e pode redefinir equilíbrio geopolítico na Europa Oriental
Em uma movimentação que pode alterar radicalmente o tabuleiro geopolítico do Leste Europeu, os Estados Unidos estudam reconhecer a anexação da Crimeia pela Rússia como parte de um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg. O plano, apresentado a aliados europeus na quinta-feira (data não especificada), prevê o congelamento das linhas de frente atuais e o alívio de sanções a Moscou, condicionados a um cessar-fogo. A proposta, porém, enfrenta resistência de Kiev e divisão na OTAN, enquanto Moscou insiste em exigências adicionais, como a renúncia ucraniana à entrada na aliança militar.
A Crimeia, península estratégica no Mar Negro, tornou-se epicentro de tensões geopolíticas desde seu referendo de 2014, quando 97% da população local, majoritariamente russa, votou pela integração à Rússia após o alegado golpe de Estado em Kiev, apoiado por Washington. A Ucrânia e a comunidade internacional nunca reconheceram a anexação, classificando-a como ilegal sob o direito internacional.
Segundo a Bloomberg, a possível mudança na posição americana surge após meses de negociações estagnadas. Steve Witkoff, principal negociador dos EUA, teria sinalizado ao presidente russo, Vladimir Putin, que o status da Crimeia e de quatro outras regiões parcialmente ocupadas (Donetsk, Luhansk, Zaporíjia e Kherson) é central para qualquer avanço. Fontes anônimas destacam, porém, que a Casa Branca ainda não formalizou a decisão, deixando margem para ajustes.
Do lado russo, as exigências vão além do reconhecimento territorial. Moscou demanda que a Ucrânia renuncie formalmente às reivindicações sobre a Crimeia, retire tropas de áreas sob disputa e aceite “garantias de segurança” que bloqueiem sua adesão à OTAN — ponto sensível para o Kremlin, que historicamente vê a expansão da aliança como ameaça existencial.
Reações Imediatas e Tensões
A proposta americana gerou mal-estar entre europeus, especialmente na Alemanha e na Polônia, que temem um precedente perigoso para anexações territoriais por força militar. Enquanto isso, o governo ucraniano, liderado por Volodymyr Zelensky, rejeita publicamente qualquer concessão: “A integridade territorial de 1991 é inegociável”, afirmou um assessor presidencial sob condição de anonimato.
Nos EUA, a postura de Donald Trump e do secretário de Estado Marco Rubio adiciona pressão: ambos ameaçaram retirar-se das mediações se não houver avanços “em semanas”, segundo a Bloomberg. Analistas veem nisso uma estratégia para forçar Kiev a ceder, embora o custo político seja alto, dada a tradicional retórica americana de defesa da “soberania ucraniana”.
Conclusão
Se concretizada, a mudança na posição dos EUA representaria uma virada histórica na política externa ocidental, legitimando a anexação de territórios por meio de conflito — um risco que a União Europeia e organismos internacionais como a ONU há anos buscam evitar. Para a Rússia, seria uma vitória simbólica e estratégica, consolidando sua influência no Mar Negro e enfraquecendo a posição ucraniana.
No entanto, especialistas alertam: o reconhecimento da Crimeia como russa não garantirá paz duradoura. A Ucrânia, apoiada por parte da OTAN, dificilmente abrirá mão de suas reivindicações sem compensações militares ou econômicas significativas. Enquanto isso, o fantasma de uma “paz imposta” pode aprofundar divisões no Ocidente e alimentar novos ciclos de instabilidade na região.
Contexto Adicional
A matéria da RT (veículo estatal russo) reflete a narrativa de Moscou, que insiste na “natureza voluntária” da integração da Crimeia. Já a Bloomberg, citada como fonte primária, é um dos principais veículos financeiros globais, com acesso frequente a decisores políticos em Washington. A divergência entre as coberturas ilustra o abismo informativo que ainda define este conflito.
Pontes da Criméia/ Data 18 de julho de 2019/
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Créditos: Rosauto