- por Marcos Gimenez
- on 09/05/2025
Em uma visita marcante a Pequim, Lula deixou claro que o Brasil olha com carinho para o “Sul Global” e para as vantagens de negociar com a China
Enquanto isso, os Estados Unidos se veem no desafio de manter sua influência aqui na América Latina
Falando Sério!
Imagine a cena: Pequim, uma terça-feira (13) movimentada. Em meio a conversas com líderes da América Latina e do Caribe, o presidente Lula falou sobre o compromisso do Brasil com a grandiosa Nova Rota da Seda. Sabe aquela iniciativa chinesa que promete mundos e fundos, cerca de US$ 1 trilhão, para obras de infraestrutura no chamado “Sul Global” até 2030? Pois é! Essa visita acontece num momento delicado, em que o Brasil faz um verdadeiro malabarismo para se equilibrar entre dois gigantes: a China, nossa maior parceira comercial desde 2009, e os Estados Unidos, um aliado de longa data que tenta frear o avanço asiático por estas bandas.
Desvendando a Trama
China: O Gigante que Abre Portas (e Carteiras) para o Brasil
Não é segredo que a China se tornou o destino número um das nossas exportações (levando quase um terço de tudo que vendemos em 2023/24) e também uma grande fornecedora (22% do que compramos). Estamos falando de um bate-bola comercial de US$ 157 bilhões – mais que o dobro do que negociamos com os EUA (US$ 75 bilhões). Mas não é só volume, Pequim também joga junto em outros aspectos:
Adeus ao dólar (em partes): Recentemente, fechamos um acordo para fazer negócios usando nossas próprias moedas (real e yuan). Isso pode baratear as coisas e nos proteger das variações do dólar, ainda que o yuan não seja tão fácil de usar por aí.
Porteira aberta para nossos produtos: Nas brigas comerciais entre EUA e China, nosso agronegócio nadou de braçada, vendendo mais soja, carne e algodão para os chineses, que precisavam suprir sua demanda e ainda ofereciam tarifas mais camaradas que as americanas.
Grana para crescer: Projetos como portos e ferrovias ligados à Nova Rota da Seda prometem dar um gás em setores que precisam de um empurrão, um contraste com o certo “esquecimento” histórico dos EUA quando o assunto é investimento pesado por aqui.
EUA: Amizade de Longa Data, Mas com um Olhar Desconfiado e “Recadinhos”
Enquanto a China parece mais focada no “toma lá, dá cá” dos negócios, os Estados Unidos costumam dar uns puxões de orelha, querendo que o Brasil se posicione contra Pequim. Nas comemorações dos 200 anos de amizade Brasil-EUA, em maio de 2024, a general Laura Richardson, chefona do Comando Sul dos EUA, não mediu palavras ao criticar a China e alertar sobre os “perigos” da Rota da Seda. Muita gente viu isso como uma tentativa de deixar Pequim falando sozinha. Além disso:
Quem manda na tecnologia? Empresas americanas ainda são as donas da bola em áreas como máquinas para indústria e autopeças. Só que as trocas de farpas tarifárias entre EUA e China podem respingar feio na nossa indústria, que depende de peças importadas.
O Xadrez Geopolítico: Washington espera que a gente jogue no time deles em questões de defesa e nas regras do jogo global, enquanto a China, geralmente, não mistura tanto as estações entre negócios e política.
Comparativo de Benefícios e “Cobranças” (Para Colocar na Balança):
Comparativo de Benefícios e Cobranças
Critério |
China |
EUA |
---|---|---|
Volume comercial | US$ 157 bi (2023), superavitário para o Brasil | US$ 75 bi (2023), deficitário para o Brasil |
Investimentos | Foco em infraestrutura e energia renovável | Concentrados em tecnologia e indústria |
Condicionalidades | Poucas exigências políticas; foco em foco reciprocidade econômica | Pressão por alinhamento geopolítico e críticas à China |
Riscos | Exposição a volatilidade do yuan e dependência de commodities | Vulnerabilidade a tarifas e crises políticas internas dos EUA |
Conclusão
(E Agora, Brasil?)
No fim das contas, para o Brasil, a China surge como aquele parceiro que chega com soluções mais diretas e vantajosas no curto prazo: comércio que enche o caixa, investimentos onde a gente mais precisa e uma certa “folga” política. Já os Estados Unidos, apesar de toda a importância histórica e tecnológica, vêm com uma lista de “condições” que podem acabar limitando os voos do Brasil.
A jogada mais esperta, como dizem os entendidos, talvez seja aproveitar essa disputa entre os grandões para fortalecer nossa própria indústria e fazer mais amigos por aí, uma lição que Getúlio Vargas já nos ensinava lá nos anos 1940, jogando com os EUA. Enquanto Pequim nos vê como uma peça fundamental nesse time do Sul Global, Washington vai precisar repensar sua abordagem por aqui se não quiser ver seu espaço diminuir ainda mais nesse novo desenho do poder mundial.
Imagem Destacada: 13.05.2025 – Reunião ampliada com o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping – Créditos: palaciodo palnalto/Flickr
https://www.flickr.com/photos/palaciodoplanalto/54517019890/
Fonte: https://noticiabrasil.net.br/20250513/china-e-brasil-estao-determinados-a-unir-suas-vozes-contra-o-unilateralismo-diz-lula-em-pequim-39508887.html