- por Marcos Gimenez
- on 26/04/2025
Aliança Sino-Russa no Espaço: Energia Nuclear e Ambição Multipolar na Lua
Parceria para a Estação Lunar Internacional (ILRS) desafia hegemonia ocidental e projeta nova ordem espacial, com tecnologia nuclear e expansão do Sul Global
Falando Sério!
Em um movimento que combina avanço científico e estratégia geopolítica, China e Rússia aceleram planos para construir a Estação Lunar Internacional de Pesquisa (ILRS), uma base permanente na Lua até a década de 2030. A cooperação, formalizada em 2021, inclui missões robóticas, exploração de recursos e até uma usina nuclear conjunta; projeto que simboliza tanto a ambição tecnológica quanto a união de dois países sob sanções ocidentais. Enquanto os EUA lideram a iniciativa Artemis, Pequim e Moscou buscam consolidar um polo alternativo de influência espacial, atraindo países do BRICS e do Sul Global.
A Ciência por Trás da Parceria: Energia Nuclear e Recursos Lunares
A ausência de luz solar por 14 dias durante a noite lunar é um desafio crítico. Para resolvê-lo, Rússia e China planejam instalar uma usina nuclear até 2035, combinando expertise russa em reatores compactos e chinesa em energia espacial. Segundo Yuri Borisov, chefe da Roscosmos, a tecnologia permitirá operações contínuas e sustentará missões humanas após 2030.
Além disso, as agências espaciais buscam explorar recursos como água congelada (para combustível de foguetes) e hélio-3 (potencial fonte de fusão nuclear). A missão Chang’e-8 (2028) testará a mineração robótica, enquanto a Rússia propõe usar materiais lunares para fabricar combustível in situ, reduzindo custos de transporte da Terra.
Geopolítica Lunar: Um Contra-Ataque ao Artemis
A ILRS surge como resposta direta à Estação Lunar Gateway, liderada pela NASA com aliados ocidentais. Para Pequim e Moscou, a cooperação é uma forma de:
Contornar sanções: A Rússia, excluída da Estação Espacial Internacional (ISS) após a invasão da Ucrânia, vê na China um parceiro financeiro e tecnológico.
Expandir influência: Até abril de 2025, 17 países (como os Emirados Árabes, África do Sul e Venezuela) aderiram ao projeto. A meta é chegar a 50, priorizando nações não alinhadas com o Ocidente.
Criar padrões alternativos: A ILRS pode estabelecer normas para exploração lunar fora do Tratado Artemis, que exige transparência e cooperação com os EUA.
Etapas do Projeto: Da Robótica à Presença Humana
O plano em três fases (2023-2030+) inclui:
Fase 1 (2026-2030): Missões Chang’e-8 (China) e Luna-27 (Rússia) mapearão o polo sul lunar e testarão pousos de precisão.
Fase 2 (2031-2035): Implantação de módulos habitáveis, sistemas de comunicação e a usina nuclear.
Fase 3 (2035+): Expansão para pesquisa científica avançada e missões tripuladas de longo prazo.
Riscos e Controvérsias
Tecnologia nuclear: A instalação de reatores na Lua gera preocupações sobre acidentes e militarização. A Rússia já testou armas anti-satélite, e a China mantém programas espaciais militares ativos.
Dependência mútua: A Rússia contribui com foguetes e know-how em voos tripulados, mas depende do financiamento chinês. Pequim, por sua vez, precisa da experiência russa em energia nuclear compacta.
Pressão ocidental: EUA e UE alertam para “dual-use” (tecnologia civil/militar) e buscam barrar a adesão de aliados à ILRS.
Conclusão
A parceria sino-russa na Lua transcende a ciência: é um tabuleiro geopolítico onde se joga o futuro da governança espacial. Enquanto a ILRS promete democratizar o acesso à Lua, sua dependência de energia nuclear e alianças com regimes autoritários alimentam tensões. Se bem-sucedida, a iniciativa consolidará um eixo Beijing-Moscou capaz de redefinir o equilíbrio de poder no espaço; uma “Nova Rota da Seda Lunar” que desafia a ordem liderada pelos EUA. Como disse Putin em Harbin: “A Lua é apenas o primeiro passo. O cosmos não pertence a um só país.” Resta saber se a cooperação sobreviverá às turbulências na Terra.
Imagem Destacada: Imagem Ilustrativa criada por IA – Créditos – DELL E 3
Fontes: