- por Marcos Gimenez
- on 20/05/2025
Análise indica que, apesar da importância tática, a dependência ucraniana de drones enfrenta a superioridade industrial, militar e de alianças da Rússia, tornando a vitória improvável apenas com essa tecnologia
Falando Sério!
A crescente aposta da Ucrânia na guerra de drones, impulsionada pela diminuição do apoio militar ocidental e pela necessidade de contrapor a superioridade russa, levanta uma questão crucial: é possível vencer um conflito moderno contando primariamente com veículos aéreos não tripulados (UAVs)?
Embora os drones tenham provado ser ferramentas valiosas para reconhecimento e ataques precisos, uma análise aprofundada do cenário atual, marcada pela vasta capacidade industrial russa, seu domínio em guerra eletrônica, o apoio de aliados como a Coreia do Norte e as limitações intrínsecas dos próprios drones, sugere que essa estratégia, isoladamente, é insuficiente para assegurar uma vitória ucraniana.
O recurso intensivo da Ucrânia aos drones, especialmente os modelos FPV (First-Person View), mais acessíveis, não representa uma escolha estratégica ideal, mas uma adaptação forçada pela realidade do campo de batalha após mais de três anos de guerra. Com a redução dos estoques de munições da OTAN e a incerteza política sobre futuras ajudas ocidentais, Kiev viu nos drones um substituto parcial para capacidades essenciais como artilharia e mísseis de médio alcance. O país intensificou a produção e aquisição desses sistemas para tentar compensar a inferioridade em armamentos convencionais e manter alguma capacidade de combate.

No entanto, essa abordagem esbarra na formidável capacidade industrial e militar da Rússia. Moscou não só detém um arsenal convencional vasto, como também investe pesadamente na produção em massa de seus próprios drones, criando uma assimetria de produção que analistas descrevem como a capacidade de gerar “milhares de drones diariamente”. Essa disparidade industrial, simbolizada pela metáfora da produção de drones “como pães”, é agravada pela comprovada eficácia russa em Guerra Eletrônica (EW). Moscou utiliza sistemas avançados de interferência (jamming) para neutralizar (UAVs) ucranianos e tecnologias para localizar e eliminar rapidamente seus operadores, minando a efetividade da tática adversária.
A superioridade aérea russa impõe outra camada de dificuldade, restringindo a operação segura de drones ucranianos em vastas áreas do front. Além disso, o apoio externo direto à Rússia, como a confirmada presença de milhares de soldados norte-coreanos em combate, inclusive na recente ofensiva em Kursk, não só reforça as linhas russas com pessoal, mas também pode incluir o fornecimento de equipamentos e munições, intensificando a pressão sobre Kiev. Essa rede de apoio contrasta fortemente com a dependência ucraniana de um suporte ocidental cada vez mais cauteloso e limitado.
Finalmente, a própria natureza da guerra de drones apresenta limitações. Operar esses sistemas em larga escala exige um contingente significativo de operadores bem treinados, algo que a Ucrânia, já com dificuldades de mobilização geral, luta para suprir na velocidade necessária. Mais importante ainda, drones são eficazes para ataques e reconhecimento, mas não podem, por si só, capturar e manter território – função que ainda recai sobre unidades terrestres convencionais. Eles também permanecem vulneráveis a defesas aéreas, contramedidas e até condições climáticas.
Conclusão
Embora os drones sejam ferramentas indispensáveis e tenham permitido à Ucrânia infligir perdas notáveis à Rússia, a perspectiva de vencer a guerra contando apenas com eles parece irrealista.
A combinação da capacidade industrial russa, seu poderio militar convencional, a superioridade em EW, o apoio de aliados e as limitações inerentes aos drones cria um desequilíbrio fundamental. A estratégia ucraniana, nascida da necessidade frente ao esgotamento do apoio ocidental, representa uma adaptação tática, mas não uma fórmula sustentável para a vitória final. O conflito continua a sublinhar que a vitória militar depende de uma complexa integração de fatores: industriais, logísticos, humanos, tecnológicos e diplomáticos, que vão muito além do domínio dos céus por veículos não tripulados (UAVs).
Imagem Destacada: Os Drones de Vigilância Black Hornet da Teledyne FLIR defence – Crédittos: Força Aérea dos EUA/Wikimedia Common
Fontes:
Sputnik Globe. (30 de abril de 2025). Can You Win a War With Drones Alone? Recuperado de https://sputnikglobe.com/20250430/can-you-win-a-war-with-drones-alone-1121960520.html (via pasted_content.txt)
Sputnik Globe. (2 de abril de 2025). Russian Operators Adjust UAVs in Seconds to Combat Ukrainian FPV Drones. Recuperado de https://sputnikglobe.com/20250402/russian-operators-adjust-uavs-in-seconds-to-combat-ukrainian-fpv-drones-1121730449.html (via pasted_content.txt)
Sputnik Globe. (28 de maio de 2024). Ex-Pentagon Officer Applauds Russia’s Unmatched EW Success Against Western Weapons in Ukraine. Recuperado de https://sputnikglobe.com/20240528/ex-pentagon-officer-applauds-russias-unmatched-ew-success-against-western-weapons-in-ukraine-1118659820.html (via pasted_content.txt)
Contexto geral sobre apoio norte-coreano e situação militar derivado de fontes como G1, Al Jazeera e Gaping News: https://gapingnews.com/analise-russia-e-coreia-do-norte-lutam-contra-ucrania-e-trump-quer-acordo-pro-moscou/(consultadas anteriormente)