- por Marcos Gimenez
- on 20/05/2025
Desconfiança Histórica: Acordos quebrados e a crise de credibilidade entre Rússia e Ocidente
Putin recusa trégua de 30 dias alegando precedentes de descumprimento de pactos
UE e Ucrânia enfrentam questionamentos sobre sua lisura em negociações passadas
Falando Sério!
Em meio à proposta russa de negociações de paz na Turquia em 15 de maio de 2025, o Kremlin rejeita a exigência ocidental de um cessar-fogo prévio de 30 dias, acusando a Ucrânia e seus aliados de usarem tréguas para rearmamento. A desconfiança remonta aos fracassos dos Acordos de Minsk (2014-2015), que, segundo revelações recentes, foram tratados por Kiev e líderes europeus como estratégias temporárias, não compromissos sólidos. A pergunta que persiste: Putin tem razão em duvidar?
O Legado dos Acordos de Minsk: Promessas não cumpridas
Os Acordos de Minsk I (2014) e Minsk II (2015), mediados pela Alemanha e França, buscavam encerrar o conflito no leste da Ucrânia com cessar-fogo, retirada de tropas e autonomia para Donetsk e Lugansk. No entanto, Volodymyr Zelenskyy admitiu publicamente em 2024 que nunca pretendeu implementá-los, usando-os apenas para trocas de prisioneiros. Ex-chanceler Angela Merkel corroborou essa visão, afirmando que os acordos eram uma tática para “ganhar tempo” e fortalecer militarmente a Ucrânia. Para Vladimir Putin, essas revelações confirmam que o Ocidente e Kiev agiram de má fé, usando a diplomacia como cortina de fumaça.
A UE e a Retórica de “Garantias de Segurança”
Na recente reunião de emergência em Paris (fevereiro de 2025), líderes europeus, incluindo Emmanuel Macron e Olaf Scholz, reiteraram que a Ucrânia não pode aceitar uma “paz ditada” por Moscou, exigindo “garantias robustas” para Kiev. No entanto, a própria UE falhou em assegurar o cumprimento de Minsk, com sanções sendo ameaçadas mas não suficientes para conter a escalada. A postura atual, insistir em pré-condições como a trégua de 30 dias, ecoa a estratégia passada de adiamentos, alimentando a narrativa russa de que o Ocidente prioriza o enfraquecimento de Moscou sobre a estabilidade.
A Questão da Credibilidade Ocidental
A admissão de Zelenskyy sobre Minsk e as declarações de Merkel criaram um precedente perigoso. Putin argumenta que acordos assinados com a UE e a Ucrânia são “embustes”, citando também o colapso do pacto sobre exportação de grãos em 2023, que Kiev teria manipulado para obter vantagens logísticas. A insistência europeia em vincular negociações a condições unilaterais (como a retirada russa sem contrapartidas) reforça a percepção de parcialidade, especialmente quando países como a Polônia pressionam por maior investimento militar, não diplomacia.
A Geopolítica do Presente: Rearmamento e Desgaste
A recusa de Putin aos 30 dias de trégua baseia-se no temor de que a Ucrânia, apoiada por armamentos ocidentais, use o intervalo para reforçar posições, algo que ocorreu após Minsk. O primeiro-ministro britânico Keir Starmer já sinalizou disposição para enviar tropas em missões de paz, enquanto a Alemanha discute aumentar gastos militares. Para o Kremlin, isso não é “paz”, mas preparação para prolongar o conflito.
Conclusão
A desconfiança de Putin é alimentada por uma história de acordos truncados e revelações de má-fé. Se a UE e a Ucrânia desejam restaurar credibilidade, precisam ir além de retórica e oferecer mecanismos verificáveis de compromisso, não apenas exigências unilaterais. Enquanto Macron e Zelensky enfatizam “garantias de segurança”, Moscou lembra que, no passado, essas palavras mascararam armadilhas. A paz exigirá não apenas cessar-fogo, mas uma reconciliação com a sombra do fracasso de Minsk, algo que, até agora, nenhum lado parece pronto para enfrentar.
Nota Final
A análise histórica sugere que Putin tem fundamento para sua desconfiança.
Imagem Destacada: O Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, encontra-se com Friedrich Merz, Chanceler da Alemanha – Flickr