- por Marcos Gimenez
- on 16/05/2025
Diálogo de 2 Horas Entre Líderes Abre Caminho para Cessar-Fogo, mas Disputas Territoriais e Interesses Estratégicos Ameaçam Acordo Sustentável
Enquanto EUA apostam em mediação e comércio pós-guerra, Ucrânia resiste a concessões e Europa questiona papel de Trump no processo. Vaticano surge como possível sede das negociações.
Falando Sério!
Em um telefonema histórico nesta segunda-feira (19/05/2025), os presidentes Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) concordaram em iniciar negociações imediatas entre Rússia e Ucrânia para um cessar-fogo e “fim da guerra”. A conversa, descrita por ambos como “construtiva”, incluiu planos para reatar relações comerciais bilaterais e a possível mediação do Vaticano. Trump informou líderes europeus e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas Kiev mantém resistência a concessões territoriais, enquanto analistas alertam para riscos de um acordo frágil.
Os Termos do Diálogo: Cessar-Fogo e Comércio em Primeiro Plano
Trump destacou em sua rede social Truth Social que as negociações serão conduzidas diretamente entre Rússia e Ucrânia, sem interferência externa, mas com o Vaticano como possível anfitrião. Putin, por sua vez, afirmou que Moscou propôs um memorando de paz com diretrizes como cronogramas e princípios de solução, incluindo um cessar-fogo temporário.
Interesses Econômicos: Trump enfatizou o potencial de comércio “em larga escala” com a Rússia após a guerra, visando a criação de empregos e reconstrução ucraniana. Putin concordou, destacando a “oportunidade ilimitada” para cooperação.
Posição Ucraniana: Zelensky declarou-se “pronto para um cessar-fogo total”, mas rejeitou a retirada de tropas de regiões ocupadas (Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson). Ele pediu mais sanções à Rússia se Moscou prolongar a guerra.
A Geopolítica por Trás da Mediação Americana
A abordagem de Trump reflete uma estratégia de apaziguamento pragmático:
Pressão por Resultados Rápidos: O vice-presidente JD Vance já propôs um cessar-fogo com concessões territoriais, incluindo reconhecimento da Crimeia russa, mas Kiev rejeita a ideia.
Divisão Europeia: Líderes da UE, como Macron e Merz, foram informados por Trump, mas temem que um acordo favoreça a Rússia. A chanceler alemã qualificou o diálogo como “passo necessário, porém arriscado”.
Esferas de Influência: Analistas apontam que o telefonema reforça a noção de que as grandes potências (EUA, Rússia, China) estão redefinindo zonas de controle, com a Ucrânia como peça em um tabuleiro maior 24.
O Jogo de Putin: Conciliação Pública, Avanços Militares
Enquanto Putin elogiou a “neutralidade” de Trump, tropas russas continuam ofensivas em Donetsk e Kursk. Especialistas alertam que o Kremlin usa negociações para consolidar ganhos territoriais:
Estratégia Híbrida: A Rússia combina diplomacia com pressão militar, aproveitando a exaustão ucraniana e a dependência de armamentos ocidentais.
Apoio de Aliados: Coreia do Norte e Irã seguem fornecendo munições e drones, fortalecendo a posição russa.
O Desafio Ucraniano: Entre a Guerra e a Paz Imposta
Zelensky enfrenta um dilema existencial:
Custo Político: Aceitar concessões territoriais deslegitimaria seu governo, que prometeu recuperar todas as áreas ocupadas desde 2014.
Pressão Militar: Com tropas cercadas em Kursk e estoques de munição críticos, a Ucrânia tem margem limitada para resistir.
O Papel do Vaticano e a Sombra das Sanções
A proposta de sediar negociações no Vaticano busca dar legitimidade moral ao processo, mas enfrenta obstáculos:
Questionamentos Éticos: Organizações como Anistia Internacional, recentemente banidas na Rússia, criticam a exclusão de garantias de direitos humanos no diálogo.
Sanções em Jogo: A UE anunciou reforço de restrições à Rússia, mas Trump sinalizou abertura para flexibilizá-las em troca de progresso nas negociações.
Conclusão
O telefonema Trump-Putin marca um ponto de virada tático, mas não estratégico, na guerra da Ucrânia. Enquanto a retórica de “paz imediata” acalma mercados e eleitores, as raízes do conflito: expansão da OTAN, controle de recursos e disputas territoriais, permanecem intocadas. A mediação americana, focada em resultados rápidos, arrisca legitimar anexações russas e fragmentar a coesão ocidental. Para a Ucrânia, a escolha é amarga: negociar em desvantagem ou prolongar uma guerra que está perdendo. O verdadeiro teste será se o cessar-fogo anunciado evolui para uma paz justa ou congela um conflito condenado a recomeçar.
Imagem Destacada: Vladimir Putin fala ao telefone durante as eleições presidenciais de 2012 na Rússia, em março de 2012/Créditos: Serviço de imprensa do Governo da Rússia.