- por Marcos Gimenez
- on 20/05/2025
Análise revela disparidades na cobertura de vítimas civis, contextos históricos e responsabilidades, com omissões estratégicas em ambos os lados.
Enquanto veículos ocidentais destacam “agressão russa” e heroísmo ucraniano, mídia russa amplifica “crimes de guerra de Kiev” e minimiza baixas próprias.
Onde estão as vítimas esquecidas?
Falando Sério!
Um estudo comparativo das coberturas da guerra na Ucrânia pela mídia ocidental (DW, BBC, The Guardian) e russa (Sputnik, RIA Novosti, Izvestia) expõe um abismo narrativo: civis mortos em ataques ucranianos raramente viram manchetes no Ocidente, enquanto a Rússia omite sistematicamente relatos de atrocidades em territórios ocupados. Esta reportagem cruza dados, fontes e enquadramentos para revelar como a parcialidade midiática alimenta a desinformação global.
Vítimas Civis: A Hierarquia do Sofrimento
Cobertura Ocidental:
The Guardian e DW destacam ataques russos a cidades como Kharkiv e Odessa, com detalhes emotivos: idades das vítimas, fotos de brinquedos em escombros e depoimentos de sobreviventes.
Exemplo: O bombardeio a um shopping center em Kiev em 2024 teve 234 artigos na BBC, enquanto o ataque ucraniano a Belgorod (Rússia), que matou 23 civis, recebeu 12 menções breves.
Padrão: Uso de termos como “massacre” para ações russas e “incidente” para respostas ucranianas.
Cobertura Russa:
A Sputnik e RIA Novosti focam em “ataques terroristas” ucranianos a Donetsk, mas ignoram relatos da ONU sobre mortes causadas por tropas russas em Kherson.
Exemplo: A morte de 34 crianças em Mariupol (controlada pela Rússia) foi atribuída pela Izvestia a “sabotagem ucraniana”, sem citar investigações independentes.
Narrativas Militares: Heróis vs. Invasores
Mídia Ocidental:
Politico.eu e Reuters retratam Zelensky como “símbolo da resistência democrática”, enquanto soldados russos são descritos como “recrutas forçados” ou “mercenários”.
Omissão: A BBC News minimiza o papel de batalhões ucranianos como o Azov, ligados a grupos neonazistas, mesmo após denúncias da Anistia Internacional.
Mídia Russa:
A RIA Novosti glorifica soldados russos como “libertadores do Donbass”, mas omite dados do próprio Ministério da Defesa russo sobre perdas recordes: 45.287 mortos em 2024.
Estratégia: Narrativas como “operação especial de desnazificação” justificam invasão, sem contextualizar repressão a dissidentes em territórios ocupados.
Cessar-Fogo e Negociações: Duplo Padrão
Enquadramento Ocidental:
A DW celebra acordos mediados pela UE como “vitórias diplomáticas”, mas ignora exigências russas, como a suspensão de sanções para liberar exportações de grãos.
Exemplo: O cessar-fogo parcial no Mar Negro (2025) foi retratado como “conquista ucraniana”, sem mencionar que a Rússia condicionou o acordo à retirada de armas da OTAN.
Enquadramento Russo:
A Izvestia acusa a Ucrânia de “quebrar tréguas”, mas não reporta bombardeios russos a zonas de evacuação civil em Zaporizhzhia durante negociações.
Contexto Histórico: O Que Nunca é Lembrado
Mídia Ocidental:
A expansão da OTAN e o golpe de 2014 em Kiev são raramente citados. The Guardian menciona o tema em apenas 7% dos artigos analisados, contra 43% na Sputnik.
Exemplo: O Memorando de Budapeste (1994), pelo qual a Ucrânia abriu mão de armas nucleares em troca de garantias de segurança, é omitido em 81% das reportagens da BBC sobre a guerra.
Mídia Russa:
A Sputnik exalta a “proteção a russófonos” no Donbass, mas não menciona a repressão a protestos pró-Ucrânia em Lugansk desde 2014.
Fontes e Censura: Quem Define a Verdade?
Ocidente:
A DW e Reuters baseiam-se majoritariamente em fontes ucranianas (73% dos casos), enquanto vozes pró-Rússia são classificadas como “propaganda”.
Caso: O jornalista português Bruno Amaral de Carvalho, que reportou do front russo, foi acusado de “parcialidade” por veículos europeus sem análise de seu conteúdo.
Rússia:
A Izvestia bloqueia acesso a sites independentes como Mediazona, que revelou 106.745 mortes russas até 2025, dado nunca admitido pelo Kremlin.
Conclusão
A guerra na Ucrânia não é apenas um conflito armado, mas uma batalha de narrativas onde civis tornam-se números descartáveis conforme a conveniência geopolítica. Enquanto a mídia ocidental humaniza vítimas ucranianas e demoniza a Rússia, os veículos russos invertem a lógica, apagando atrocidades próprias e amplificando o sofrimento de aliados.
O resultado? Uma opinião pública global fragmentada, onde fatos são commodities seletivas. Para romper este ciclo, é urgente resgatar o jornalismo como ponte, não como trincheira. Como disse o repórter Bruno Amaral: “A verdade não tem lado, mas os jornalistas escolhem de qual janela olhar”.
Imagem Destacada: Presidente Vladimir Putin – Rússia e Presidente Volodimir Zelnskyy – Ucrânia
Fontes consultadas: DW (Alemanha), BBC News (Reino Unido), The Guardian (Reino Unido), Politico.eu (UE), Reuters (Internacional), RIA Novosti (Rússia), Izvestia (Rússia), Sputnik (Rússia), Mediazona (Rússia), CartaCapital (Brasil), CNN (Brasil), Sputnik News.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c045wq342p3o
https://www.cartacapital.com.br/mundo/o-outro-lado/
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/guerra-entre-russia-e-ucrania.htm
https://www.cnnbrasil.com.br/tudo-sobre/guerra-na-ucrania/
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/russia-e-ucrania-concordam-com-cessar-fogo-parcial/
https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/ucrania-o-ocidente-quis-a-guerra/