- por Marcos Gimenez
- on 19/12/2024
Astrônomos detectam ventos de até 33.000 km/h em WASP-127b, um planeta gigante gasoso
Descoberta inédita revela correntes de ar extremas em exoplaneta, desafiando tudo o que se sabia sobre atmosferas planetárias
Cientistas do Observatório Europeu do Sul (ESO) fizeram uma descoberta que desafia os limites da nossa compreensão sobre os fenômenos atmosféricos em outros planetas. Utilizando o Very Large Telescope (VLT), os astrônomos detectaram ventos supersônicos, com velocidades superiores a 33.000 km/h, varrendo o equador do exoplaneta WASP-127b, localizado a mais de 500 anos-luz da Terra. Essa descoberta marca um marco na exploração de atmosferas planetárias e abre novas perspectivas para o estudo de mundos distantes.
Astrônomos descobriram ventos extremamente poderosos golpeando o equador de WASP-127b, um exoplaneta gigante. Atingindo velocidades de até 33.000 km/h, os ventos formam a corrente de jato mais rápida desse tipo já medida em um planeta. A descoberta foi feita usando o Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (VLT do ESO) no Chile e fornece insights únicos sobre os padrões climáticos de um mundo distante.
O WASP-127b, um gigante gasoso ligeiramente maior que Júpiter, intriga os astrônomos desde sua descoberta em 2016. Sua atmosfera, composta por vapor de água e monóxido de carbono, já havia sido objeto de estudos anteriores. No entanto, a nova pesquisa, liderada por Lisa Nortmann da Universidade de Göttingen, revelou um fenômeno até então desconhecido: a presença de poderosas correntes de jato equatoriais, com velocidades nunca antes registradas em um planeta.
Esta animação mostra ventos de jato supersônicos golpeando o equador do exoplaneta gigante WASP-127b, localizado a cerca de 520 anos-luz da Terra. Com velocidades de até 9 km por segundo (quase 33 000 km/h), é a corrente de jato mais rápida desse tipo já medida no Universo. Os astrônomos mapearam o clima de WASP-127b usando o Very Large Telescope (VLT) do ESO. Ao medir como a luz da estrela hospedeira viaja pela atmosfera superior do planeta, eles traçaram sua composição, o que confirmou vapor de água e moléculas de monóxido de carbono na atmosfera. Ao rastrear a velocidade desse material, os astrônomos observaram um pico duplo, indicando que um lado da atmosfera está se movendo em nossa direção e o outro para longe de nós, o que significa que há uma poderosa corrente de vento circulando o planeta. Crédito: ESO/L. Calçada/ Crédito: ESO/L. Calçada/ ESO Media Newsletter
Além dos ventos extremos, a equipe também descobriu que o WASP-127b apresenta outros padrões climáticos complexos, semelhantes aos observados em planetas do nosso Sistema Solar. Os polos do planeta são mais frios do que o equador, e há uma leve diferença de temperatura entre os lados diurno e noturno. “Isso mostra que o planeta tem um clima dinâmico e variado”, afirma Fei Yan, coautor do estudo.
Ao analisar a luz estelar que atravessa a atmosfera do WASP-127b, os pesquisadores identificaram um padrão distintivo, indicando a presença de ventos soprando em direções opostas com velocidades extraordinárias. Essa descoberta sugere que as condições atmosféricas nesse exoplaneta são muito mais extremas do que se imaginava, desafiando os modelos climáticos existentes.
A equipe de astrônomos acredita que a intensa radiação da estrela hospedeira e a rápida rotação do planeta são os principais fatores responsáveis pela formação desses ventos supersônicos. A combinação desses elementos cria um ambiente dinâmico e turbulento, onde as temperaturas podem variar significativamente entre diferentes regiões do planeta.
Astrônomos mapearam o clima e a composição de WASP-127b usando o Very Large Telescope (VLT) do ESO. Crédito: SO/L. Calçada/ ESO Media Newsletter
O campo da pesquisa de exoplanetas está avançando rapidamente. Graças a telescópios como o VLT, os cientistas podem agora mapear o clima e analisar as atmosferas de planetas distantes, desvendando os mistérios da formação planetária. “Entender a dinâmica desses exoplanetas nos ajuda a explorar mecanismos como redistribuição de calor e processos químicos, melhorando nossa compreensão da formação de planetas e potencialmente lançando luz sobre as origens do nosso próprio Sistema Solar”, explica David Cont. No futuro, o Extremely Large Telescope do ESO, com seu instrumento ANDES, permitirá que os pesquisadores se aprofundem ainda mais nos padrões climáticos de planetas distantes, incluindo aqueles menores e rochosos.
Uma análise mais detalhada do formato dessas linhas permitiu aos astrônomos inferir que esse vento rápido está, na verdade, restrito ao equador do planeta – uma corrente de jato. Crédito: ESO/L. Calçada/ Crédito: ESO/L. Calçada/ ESO Media Newsletter
Conclusão
A descoberta de ventos supersônicos e a complexidade climática do WASP-127b representam um marco na exploração de exoplanetas. Essa pesquisa demonstra o poder dos telescópios modernos em desvendar os mistérios dos mundos distantes e abre caminho para futuras descobertas sobre a diversidade de climas planetários. Com o avanço da tecnologia, os astrônomos estarão cada vez mais equipados para explorar os detalhes dos sistemas climáticos exoplanetários e, quem sabe, encontrar planetas com condições propícias para a vida.
Imagem Destacada: Esta visualização artística de WASP-127b, um planeta gigante gasoso localizado a cerca de 520 anos-luz da Terra, mostra seus ventos de jato supersônicos recém-descobertos que se movem ao redor do equador do planeta. Com uma velocidade de 9 km por segundo (33.000 km/h), esta é a corrente de jato mais rápida desse tipo já medida no Universo. Ao rastrear a velocidade das moléculas na atmosfera com o instrumento CRIRES+ no Very Large Telescope do ESO , os pesquisadores descobriram que um lado da atmosfera do planeta está se movendo em nossa direção e o outro se afastando de nós. Isso indica que há uma poderosa corrente de vento circulando o planeta. Crédito: ESO/L. Calçada/ ESO Media Newsletter